quinta-feira, 20 de novembro de 2008

A teoria dos quatro humores

Na Grécia Antiga alguns homens começaram a especular sobre a natureza, a origem da vida e do universo, nascia a filosofia.

Entre outras coisas especulavam de que as coisas da natureza eram feitas, qual a substância básica que formava o mundo. Alguns diziam que era o fogo, outros que era a água, outros ainda que era a terra ou o ar. Cada um argumentava tentando demonstrar que sua visão era a correta e a dos demais errada. Uma dia, um homem chamado Empédocles (que viveu 490 e 430 a.C.) aventou que esses quatro elementos eram básicos: todas as coisas eram formadas pela mistura em diferentes proporções dessas substâncias. Hoje em dia sabemos que estavam todos errados, mais ou menos. Nenhum desses quatro elementos são básicos, mas a matéria comum da Terra e dos celestes são compostos por diferentes proporções de elementos básicos que não são quatro, mas preenchem toda a tabela periódica - mais de 110 elementos diferentes atualmente conhecidos. Se bem que podemos ir um pouco mais a fundo e ver que são três partículas subatômicas básicas que compõem esses elementos químicos: prótons, nêutrons e elétrons. Nesse nível são três elementos. Mas se formos mais a fundo veremos que prótons e nêutrons são formados por quarks. O chamado Modelo Padrão diz que há seis tipos de quarks e seis tipos de léptons - o elétron é um tipo de lépton -, mais as partículas reponsáveis pelas interações eletromagnética, nuclear forte e nuclear fraca. Se considerarmos a Teoria das Supercordas, há apenas um componente básico da matéria, cordas minúsculas cujos diferentes padrões de vibração geram as diferentes propriedades das partículas subatômicas.

Voltando aos quatro elementos gregos, essa teoria influenciou a visão de Hipócrates (460 a 377 a.C., contemporâneo, portanto, de Empédocles), considerado o pai da Medicina ocidental por seus tratados sobre a saúde e a doença. Para Hipócrates, a saúde era promovida pelo equilíbrio entre quatro humores: o sangue, a fleugma, a bile amarela (gr. kholé) e a bile negra (gr. mélaina kholé) - donde os estados de ânimo sanguíneo (violento), fleumático (apático), colérico (irado) e melancólico (triste). Esses humores estavam associados ao ar, à água, ao fogo e à terra. E também às estações do ano: primavera, inverno, verão e outono, nas quais haveria predomínio do respectivo humor.

O sangue seria armazenado no fígado e dali enviado para o coração, onde se aquece tornando-se quente e úmido. A fleuma seria produzida pelo cérebro, de natureza fria e úmida, correspondia a todas as secreções mucosas - a glândula pituitária (hipófise), presente no cérebro dos vertebrados, ganhou esse nome porque se acreditava que ela produzia a fleugma (do lat. pituita, ranho, muco). A bile amarela, quente e seca, seria produzida pelo fígado. A bile negra, fria e seca, teria origem no baço e no estômago - não há uma secreção ou líquido real no corpo que tenha relação com a bile negra, acredita-se que sua existência foi imaginada pela ocorrência de hematêmese (vômito com sangue), melena (fezes com sangue) e hematoglobinúria (urina com sangue), com o sangue oxidado conferindo uma cor escura.

A visão hipocrática atravessou eras chegando pouco alterada até o séc. 16 na Europa. A prática da sangria se firmava nela, tentando restabelecer o equilíbrio entre os humores. Bem como o uso de purgativos (laxantes), eméticos (vomitórios) e clisteres (lavagem intestinal). Pois então, era terrível ficar doente naqueles tempos: tanto pela própria enfermidade quanto pelos procedimentos terapêuticos. Não era raro a sangria matar o paciente por choque hipovolêmico (falta de sangue).

Expressões como bom humor e mau humor derivam desse modo de pensar. E a palavra humor que originalmente significava líquido - umidade é uma palavra relacionada - ganhou a idéia de estado de ânimo e, mais restritivamente, de comicidade.

Saiba mais:
Barros, J.A.C. 2002. Pensando o processo saúde doença: a que responde o modelo biomédico? Saúde e Sociedade 11(1): 67-84.

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